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Meu mundo teu – Alexandre Sequeira

Foi com uma pedrada que Alexandre Sequeira conheceu Jefferson Oliveira. O menino estava trepado numa árvore da Ilha do Combu, bairro da periferia de Belém, e não teve dúvidas quando viu o estranho se aproximar. Se a pedra atirada foi o pretexto que Alexandre precisava para estabelecer um diálogo com o garoto então desconhecido, por sua vez, a câmera fotográfica do artista foi o dispositivo que possivelmente fez com que fosse imediato o desejo de prolongamento dessa conversa por parte do menino. Mas o tal diálogo, ficamos sabendo, não era exatamente entre Jefferson e Alexandre, senão entre o garoto e Tayana Wanzeler – moradora do bairro Guamá, a muitos quilômetros de distância, na outra margem do rio –, a quem o artista conhecera anteriormente, durante uma oficina de desenhos. Alexandre e sua câmera eram os mensageiros e os mediadores da relação entre os dois adolescentes, que só viriam a se conhecer aproximadamente um ano depois da pedrada, quando já haviam trocado dezenas de cartas e criado imagens em conjunto, sobrepondo – e, assim, conjugando – a realidade de um na fantasia do outro. À vivência com Tayana e Jefferson, Alexandre Sequeira deu o nome de Meu mundo teu, expressão que aprendera com o garoto.

Essa e outras experiências se reúnem nesta exposição de mesmo título, numa trama que põe em relação diferentes contextos, pessoas, momentos, intenções. Aqui se articulam amizades, trocas, narrativas e serviços que nos últimos anos atravessaram a vida – e a obra – do paraense Alexandre Sequeira, e que em comum possuem sobremaneira o interesse pela fotografia e pelo outro. Combinação fascinante entre imagem e alteridade que tem produzido não exatamente obras, mas processos de convivência e colaboração que geram um conjunto de imagens, memórias, sons, narrativas, objetos. Não sendo possível precisamente circunscrever as experiências vividas pelo artista, tampouco reduzi-las à sua dimensão visível, a mostra Meu mundo teu anseia evocá-las. Propomos um ambiente de imersão nos relatos e memórias dos encontros aqui apresentados, oferecendo estações de leitura em que o intangível da vivência do outro se coloca como um – talvez silencioso – convite à presença, à escuta e ao diálogo, desta vez, performados na relação com o público, como quem lança uma pedrinha no ombro de quem adentra este espaço.

Além da reunião dessas experiências – que, por meio da generosidade do artista, passam a compor a Coleção MAR, tornando-a referência de sua obra –, Meu mundo teu é também uma espécie de laboratório de um processo em aberto, aqui apresentado em estado orbital por meio da Constelação de Tião, um projeto de Alexandre Sequeira em colaboração com Aline Mendes, ativista e moradora do Morro da Providência, por meio de quem o MAR e o artista conheceram o acervo fotográfico de Tião, retratista desta região entre as décadas de 1960 e 1980. Como testemunha e agente da história portuária do Rio, a pluralidade e a eloquência da obra de Tião apontam para a dimensão política do afeto, das relações, da amizade e da saudade, territórios da memória e de suas estratégias de resistência – dentre elas a imagem e, particularmente, a fotografia. Identificado com Tião, Alexandre o abraça em seu meu mundo teu pela vontade de continuar trançando pronomes, como se buscasse, por fim, desfiar a preponderância do eu.

Clarissa Diniz e Janaina Melo
Curadoras

Aqui se articulam amizades, trocas, narrativas e serviços que nos últimos anos atravessaram a vida – e a obra – do paraense Alexandre Sequeira, e que em comum possuem sobremaneira o interesse pela fotografia e pelo outro.