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A mostra narra a trajetória da cantora a partir de fotografias de Wilton Montenegro e explora a relação da artista com o Rio de Janeiro e a religiosidade afro-brasileira

A mostra narra a trajetória da cantora a partir de fotografias de Wilton Montenegro e explora a relação da artista com o Rio de Janeiro e a religiosidade afro-brasileira

O Museu de Arte do Rio inaugura no dia 10 de dezembro a exposição gratuita “Clara Nunes” no foyer da Escola do Olhar. A mostra apresenta ao público uma leitura contemporânea da intérprete que marcou a música brasileira, abordando a relação da artista com o Rio de Janeiro, em especial a região da zona portuária. Com cerca de 50 obras, a exposição conta com fotografias inéditas da cantora registradas pelo fotógrafo Wilton Montenegro no Morro da Saúde, localizado na Pequena África, e com duas peças inéditas de artistas contemporâneos.

Com atenção especial à estética afro-brasileira, a mostra também explora a conexão de Clara Nunes com o Jongo da Serrinha, a Escola de Samba Portela, além de sua viagem à Angola, apresentando assim uma visão ampla da trajetória da artista. A mostra tem curadoria de Marcelo Campos, Curador-Chefe do MAR, Amanda Bonan, Gerente de Curadoria do MAR e Marlon de Souza, Curador do Instituto Clara Nunes. Souza ressalta a importância da influência da Portela e do Jongo da Serrinha na trajetória musical e na religiosidade de Clara Nunes.

“Clara Nunes foi uma pessoa profundamente religiosa, de muita fé. Desde o início da década de 1970, possui vínculo com as religiões de matriz africana, frequentando o terreiro de Vovó Maria Joana na Serrinha, o de mãe Celina na Bahia e o da esposa de Barbosa do conjunto Nosso Samba, no Morro da Saúde. Nesse sentido, a relação de Clara com a Serrinha e também com a Portela é uma relação que ultrapassa a sua vida profissional. Trata-se de uma relação de amizade, de convívio próximo, mas também é uma relação artística, que influenciou a obra de Clara Nunes, principalmente na gravação de sambas dos compositores da Portela”, comenta.

Segundo o Curador-Chefe do MAR, Marcelo Campos, a exposição foi pensada para abordar questões estéticas e sociais da vida de Clara Nunes, como a religiosidade afro-brasileira. Campos destaca ainda as fotografias inéditas da cantora andando com crianças no Morro da Saúde, contribuição do fotógrafo Wilton Montenegro.

“Nós pensamos a exposição a partir da trajetória de Clara Nunes presente nas fotografias de Wilton Montenegro, importante fotógrafo da arte contemporânea que registrou os principais artistas brasileiros, sobretudo em fotos para capas de disco de samba. A exposição, portanto, traz o acervo de fotografias de Wilton Montenegro para o MAR, mostrando Clara Nunes como uma espécie de performer, que posa e dança diante das lentes de Wilton”, afirma Campos.

Além das fotografias, a exposição conta com duas obras inéditas de dois artistas contemporâneos: Pandro Nobã e Panmela Castro. A peça de Nobã é uma instalação artística criada a partir de objetos e figuras relacionados à ancestralidade negra e à figura do preto velho, dialogando também com o imaginário do Jongo da Serrinha e das religiões de matriz africana. Já a obra de Panmela é um espelho onde o visitante poderá se ver no rosto de Clara Nunes.

Para o Diretor e Chefe da Representação da OEI no Brasil, Raphael Callou, o público do MAR pode esperar uma exposição muito apaixonada pelo Rio de Janeiro e por Clara Nunes, estrela da música brasileira.

“A mostra também nos ajuda a reforçar a missão do MAR de ser um espaço artístico dedicado à arte e sua conexão com diversas manifestações e expressões culturais e de ser um museu com uma vocação popular no seu caráter identitário. Nesse sentido, apresentamos Clara Nunes que é esse ícone da música brasileira e que continua contemporânea”, comenta.

Quem foi Clara Nunes?

Considerada uma das maiores vozes do samba e da MPB, Clara Nunes nasceu em 1942 em Paraopeba (MG). Após atuar como tecelã em Minas Gerais, Clara se mudou para Belo Horizonte e passou a cantar nas rádios locais. Em seguida, a cantora se mudou para o Rio de Janeiro, onde conheceu a Escola de Samba Portela. Na mesma época, Clara Nunes passou a ter contato com a cultura africana e se converteu à umbanda.

A mudança para o Rio de Janeiro foi acompanhada de um enorme sucesso musical, com milhares de discos vendidos e a conquista da admiração do público. Com um legado que atravessa gerações, a cantora mineira morreu jovem com apenas 40 anos em abril de 1983, após complicações decorrentes de uma cirurgia.