O Museu de Arte do Rio abre ao público, no dia 14 de junho de 2025, a exposição “Retratistas do Morro”. A mostra que chega ao MAR tem por objetivo contribuir para a construção de uma narrativa da história recente das imagens brasileiras, a partir do ponto de vista de fotógrafos que vivem e trabalham há mais de meio século nas periferias urbanas de Minas Gerais. A narrativa visual apresentada na exposição Retratistas do Morro é, sobretudo, um testemunho do poder da fotografia como ferramenta de resistência e afirmação cultural. Cada imagem carrega os valores do tempo e da comunidade: revelando festas populares, rituais de passagem, cenas do cotidiano em retratos posados que expressam orgulho e afeto. A curadoria da exposição é assinada por Guilherme Cunha com acompanhamento curatorial da equipe MAR.
A exposição é fruto do projeto Retratistas do Morro, que desde sua criação se dedica à preservação, conservação, pesquisa, curadoria e restauração digital do acervo fotográfico de dois importantes nomes: João Mendes e Afonso Pimenta. Ambos começaram a atuar no final dos anos 1960, registrando com sensibilidade e profundidade o cotidiano do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte (MG) — a segunda maior favela do Brasil. As imagens apresentadas também foram parte do acervo da moradora Ana Oliveira e revelam a riqueza estética e afetiva dos retratos de família, eventos comunitários e cenas da vida cotidiana. “As imagens produzidas por Afonso e João unidas ao acervo de monóculos de dona Ana Oliveira, nos revelam outras versões da história das cidades e das populações de favela no Brasil, contadas a partir das experiências, da realidade familiar, de acontecimentos, como casamentos, nascimentos, batizados, jogos de futebol, velórios, formaturas, bailes, construções de barracos, e da visão de mundo de seus moradores. O acervo desses retratistas tem uma importância simbólica muito especial para a preservação da memória imagética e valorização das histórias de vida dos moradores do Aglomerado da Serra, assim como das favelas em geral no Brasil, nos apresentando outras versões da realidade. São histórias secularmente invisibilizadas e que agora adquirem um protagonismo por meio da restauração de fotografias que retratam mais de 50 anos dos movimentos cotidianos da comunidade“, explica Guilherme Cunha, artista idealizador do projeto
Cerca de 220 fotografias serão apresentadas na exposição “Retratistas do Morro”, além dos áudios com entrevistas apresentado o contexto das imagens por fotógrafos e moradores retratados. A chegada do projeto a um dos mais importantes equipamentos culturais do Rio de Janeiro reafirma o compromisso do Museu de Arte do Rio com uma arte plural e conectada às múltiplas vozes que formam a identidade brasileira. “A importância dessa exposição acontecer no MAR é porque ela se desenvolve entre nós, com esse desejo de proximidade entre a fotografia e o público. Retratistas do Morro parte de imagens coletadas, produzidas por esses fotógrafos que tinham o seu laboratório na comunidade e ao mesmo tempo que guardaram esses negativos e cujas pessoas que aparecem nas fotografias, muitas são reconhecidas pelo grupo. A gente inclusive insere áudios sobre as pessoas e as imagens na exposição. A potência dessas narrativas é justamente ter realidades mais amplas de um Brasil mais diverso, mais plural. São as fotos que nós, que viemos de classes menos favorecidas da sociedade, nós reconhecemos como os nossos aniversários, as nossas festas de 15 anos, as formaturas das nossas crianças. Então, há um conjunto significativo de material que nos aproxima dessas imagens e, muitas vezes, não das imagens clássicas, de uma fotografia erudita, por exemplo”, destaca Marcelo Campos, Curador-chefe do MAR.
Durante a abertura da exposição haverá uma “Conversa de Galeria” com a dupla de retratistas e os curadores, além do lançamento do livro “Retratistas do Morro”, finalista do prêmio Jabuti, com sessão de autógrafos dos autores. A entrada na exposição será gratuita, mas ao chegar na bilheteria é preciso informar que veio para a abertura. A exposição ficará em cartaz até outubro de 2026 e conta com a parceria estratégica de KUBA.