O Museu de Arte do Rio (MAR) lança a sua nova exposição “Nossa Vida Bantu” no sábado, dia 31 de maio. A principal mostra do ano do MAR ressalta o papel significativo que os povos de diversos países africanos, denominados sob o termo linguístico “bantus”, tiveram na formação cultural brasileira e na identidade nacional. Expressões como, “dengo”, “caçula”, “farofa”; as congadas e folias; as tecnologias da metalurgia e do couro são algumas das expressões culturais que herdamos e recriamos da cultura bantu. Apresentada pelo Instituto Cultural Vale, com curadoria de Marcelo Campos e Amanda Bonan junto ao curador convidado Tiganá Santana, a mostra contou também com a colaboração de consultores, como Salloma Salomão, Abreu Paxe, Wanderson Flor e Margarida Petter.
A exposição propõe abordar o impacto da cultura bantu incorporada aos saberes dos povos originários e afrodiaspóricos aqui presentes. O MAR apresenta o protagonismo dessas populações, que mesmo diante do colonialismo e da escravização, mantiveram vivas suas tradições e transformaram profundamente a cultura brasileira. “Em Nossa Vida Bantu há uma missão nossa em dizer que na verdade a África bantu é muito mais apropriada pelo Brasil, em diversos estados do país tudo é muito mais bantu, na nossa compreensão africana, do que necessariamente nagô e iorubá. Africanos aqui instalados por conta da diáspora passaram então a incorporar o conhecimento da terra, por exemplo, o conhecimento sobre as ervas, sobre a passagem do tempo. E daí, então, houve essa troca que até hoje não nomeamos. A gente poderia chamar de afro-indígena, mas é sobretudo um elemento adaptativo, o grande signo bantu é o signo da mudança e da adaptação. É uma exposição que mostra uma vida possível, uma vida muito conectada na natureza, nos elementos da espiritualidade. Um dos grandes esforços dessa exposição é poder comunicar, interagir com o público a partir de abstrações, ou seja, são pensamentos filosóficos, são pensamentos abertos. O público pode esperar o reconhecimento deles mesmos nessa vida bantu, quando a gente diz que é a minha, a sua, a nossa vida bantu, é um brasil bantu”, afirma Marcelo Campos, curador-chefe do MAR.
O termo bantu, inicialmente uma categorização linguística do século XIX (1862), proposta pelo linguista alemão W. Bleek, foi apropriado por representantes dessas civilizações, adquirindo um sentido identitário que transcende a dimensão linguística. “Sinuca”, “moleque”, “farofa” essas e tantas outras palavras recorrentes no vocabulário da nossa população evidenciam a influência bantu na formação da língua portuguesa brasileira. Mas as contribuições dos povos africanos classificados como bantu não apenas influenciaram, mas estruturaram a cultura brasileira. A presença bantu no Brasil manifesta-se em diversos aspectos para além da dimensão lexical, são tecnologias, instrumentos, repertórios gestuais, religiosidade, e em contribuições culturais disseminadas por quase todo o território brasileiro. “Com Nossa Vida Bantu, o MAR resgata e valoriza a significativa influência dos povos bantus na formação cultural brasileira, em uma iniciativa que reforça a atuação do Instituto Cultural Vale no apoio a uma cultura antirracista, plural e acessível, aliada à educação e ampliando oportunidades para aprender, refletir e desenvolver novos olhares”, diz o diretor-presidente do Instituto Cultural Vale, Hugo Barreto.
A principal exposição do ano do MAR apresenta uma seleção de obras instalativas que traçam um panorama da herança bantu através das linguagens artísticas. “Uma compreensão que permeia muitos saberes bantu presentes na diáspora negra é a de que, em muitas camadas, há, necessariamente, o que varia ao se estabelecer, e é no sentido do que se estabelece e, por isso mesmo, varia que reunimos, nesta exposição, subjetividades e ações artísticas, entre Brasil (majoritariamente), Angola, Cuba e Uruguai, a versar sobre presenças bantu a partir de agora, acontecendo nesta molécula de instante”, ressalta Tiganá Santana, curador convidado.
“Nossa Vida Bantu” é uma exposição coletiva que reúne cerca de 50 obras, entre elas, produções comissionadas e inéditas de mais de 20 artistas tanto nacionais como internacionais, entre eles estão André Vargas, Márcia Falcão, José Bedia, Eustáquio Neves, Pedro Figari, Castiel Vitorino Brasileiro, biarritzz, entre outros. Uma surpresa da mostra é o encontro do coletivo africano Verkron com o coletivo indígena Mahku. Serão vídeos, instalações, esculturas, pinturas, paisagens sonoras e textos que apresentam a influência bantu no país. A expografia é assinada por Stella Tennenbaum e Pedro Varella.
O Museu de Arte do Rio tem a missão de ampliar narrativas, resgatar biografias e produções e, principalmente, ser um lugar destinado à salvaguarda da memória, seja por meio do nosso acervo ou das nossas exposições. “O MAR está inserido no território da pequena África, do Cais Valongo, onde essas pessoas e essa cultura chegou no Brasil e daqui ela se espalhou pelo país inteiro. O MAR cumpre o seu papel de trazer à tona a reflexão sobre as influências e a repercussão da cultura bantu na produção artística contemporânea”, destaca Marcelo Velloso, diretor-executivo do MAR.
Na abertura da exposição, no dia 31 de maio, a partir das 14 horas, a programação do MAR contará com falas institucionais dos curadores da mostra, um workshop de dança Kizomba e a edição da festa raízes com as apresentações da DJ Elly Chuva e do DJ Julio Rodrigues. O evento é gratuito e sujeito à lotação