“Ocupação Bori: o filme + coleção MAR” abre ao público no dia 09 de dezembro, no Museu de Arte do Rio. A ocupação apresenta fotografias do trabalho do artista visual e curador Ayrson Heráclito, numa pesquisa que ele realiza desde 2006, inspirada nos ritos da tradição afro-brasileira, onde as pessoas performaram junto às comidas e toques dos respectivos deuses iorubanos.
Além disso, a ocupação ainda conta com o lançamento do filme Iwano Bori, – oferenda para a cabeça cósmica, do diretor Lula Buarque de Hollanda, um registro poético da performance de Bori, apresentada na Pinacoteca de São Paulo, em 2022. Para as religiões de matrizes nagô-ioruba, a cabeça (Ori) possui absoluta independência e correlação com o corpo. Os primeiros habitantes do mundo, os peixes, só tinham a cabeça para lhes conduzir. Bori, então, é uma prática ancestral de propiciar renovação às forças que regem o Ori.
Na videoperformance, Heráclito agência a cena. Conduz um a um à esteira, deita-os, e passa a preparar as comidas que circundam os oris. Um ritual de longa duração. Algo imerso em força espiritual, energia vital e criação. O filme de Lula Buarque de Holanda presencia, edita e redimensiona a ação. Ali, sob a trilha de Tigana Santana, prepara-se, concomitantemente, todas as cabeças, como se preparassem uma única. As cores dos alimentos, os desenhos associativos, ao mar, às ferramentas, às serpentes colocam o gesto artístico em franca invenção. Cuidando para que não sejam replicadas ou reveladas as imagens que dão origem ao mistério, ao não visto. E, assim, mudam-se os semblantes dos rostos. “A ação consiste em oferecer comidas à cabeça de doze performers, sendo esses representações dos doze principais orixás do candomblé. Dar comida para a cabeça é nutrir a nossa alma. Alimentar a cabeça com comidas para os deuses é evocar proteção”, explica Ayrson Heráclito.