Brincalhões, irreverentes, assustadores… Com suas caretas horripilantes, abrem as apresentações dos grupos tradicionais da região da baixada maranhense, auxiliam – ou atrapalham – na brincadeira e pregam peças no público, tudo isso com um gingado único ao som do balançar de um chocalho. Assim é o cazumba, uma das personagens mais emblemáticas do Bumba Meu Boi do Maranhão.
A figura do cazumba chama atenção pelos inúmeros detalhes que compõem o seu figurino: a túnica ou bata bordada com paetês e miçangas, ou feitas de chita; o cofo que confere o divertido rebolado e é utilizado para guardar objetos; e a careta, com sua base de chapéu, com cabeleira e queixo costurados, que assusta e encanta, e traz consigo a assinatura de quem a produz. Zimar é um destes artistas, que imprime nas caretas um estilo próprio, desafiando a tradição e encantando pela imaginação.
Suas obras compõem a nova exposição itinerante do Centro Cultural Vale Maranhão, ZIMAR, que será aberta ao público nesta terça, 10 de dezembro, às 14h, no Museu de Arte do Rio. Ao todo, são 65 caretas de cazumba produzidas com os mais diversos materiais. Capacete, cano de PVC, pára-lamas de moto, panelas de alumínio, peças de ventilador, escovas de dentes, pneus de bicicletas são alguns dos artefatos usados pelo artesão na criação das peças, que já fazem parte da fantasia de cazumba de vários grupos de Bumba Meu Boi da região da baixada maranhense.
Eusimar Meireles Gomes, o Zimar, é natural do município de Matinha (MA), e iniciou a confecção de caretas de cazumba após se machucar com uma máscara que havia comprado. Decidiu, então, adaptar as máscaras para o formato de seu rosto, proporcionando mais conforto. “Podemos dividir o trabalho de Zimar em três fases: uma primeira onde trabalhou queixos e caretas bem elaboradas em madeira paparaúba; a segunda também em madeira, mas com feições mais reduzidas; e a terceira em que reaparece utilizando diversos materiais. Ele faz parte de um conjunto de bons fazedores de caretas, que aplicam a marca pessoal como uma assinatura de suas obras, seja pelo reaproveitamento de aparatos corriqueiros ou na expressão das máscaras confeccionadas”, explica Jandir Gonçalves, pesquisador da cultura popular maranhense e que assina a curadoria da exposição juntamente com Reinilda Oliveira e Sergileide Lima.
A exposição conta ainda com um documentário curta-metragem homônimo e inédito, dirigido pelo cineasta Beto Matuck, especialmente para a mostra. O filme mostra Zimar criando as caretas, enquanto conta sobre sua história, inspirações e aborda questões profundas como a relação entre vida e morte. “Expor um artista como Zimar é reconhecer a cultura em seu amplo sentido de origem. Ele é um grande representante dos artistas populares do Maranhão e sua obra toma dimensões universais, quando suscita em nós sentimentos comuns ao humano, como medo, desejo, surpresa, atração e repulsa. A liberdade de criação é evidente, bem como todo um arcabouço expressivo que se conecta às esferas da ancestralidade e do sonho”, destaca Gabriel Gutierrez, diretor e coordenador artístico do Centro Cultural Vale Maranhão.
O Rio de Janeiro é a terceira cidade visitada pela exposição itinerante, que estreou em São Luís, no Centro Cultural Vale Maranhão, e já passou pelo Museu Nacional da República, em Brasília. “O Mestre Zimar é um dos artistas de raiz popular brasileira mais emblemáticos. Ele tem uma obra única, muito expressiva, muito envolvente. Suas caretas de cazumba, uma das personagens mais expressivos do Bumba Meu Boi do Maranhão, nos conectam com a identidade cultural brasileira, uma identidade popular. Essa exposição, que passou pelo Museu Nacional em Brasília e chega ao MAR, no Rio de Janeiro, reconhece a nossa cultura em toda a sua diversidade.”, reforça Hugo Barreto, diretor-presidente do Instituto Cultural Vale.
ZIMAR ficará em cartaz no Museu de Arte do Rio até o dia 7 de abril de 2025, de terça a domingo, das 11h às 18h. Última entrada às 17h. Terças gratuitas.
Serviço
O quê: Exposição ZIMAR
Onde: Museu de Arte do Rio
Quando: Abertura, 10 de dezembro, às 12h45 com apresentação do Bumba Meu Boi Flor de Matinha, seguida de visita guiada com o diretor do Centro Cultural Vale Maranhão, Gabriel Gutierrez