O Museu de Arte do Rio apresenta O poema infinito de Wlademir Dias-Pino, que traz ao conhecimento do público a obra de um dos mais significantes artistas do Brasil. Com curadoria de Evandro Salles, a mostra reúne mais de 800 peças entre livros, cartazes, objetos, fotografias, desenhos, vídeos e instalações para contar a história de quase 90 anos de vida do artista – seus diversos focos de trabalho, a atuação política na fundação da Universidade da Selva (hoje Universidade Federal do Mato Grosso) e a intensa atividade como teórico do design e programador visual.
Nascido no Rio de Janeiro, Dias-Pino migra ainda criança para o Mato Grosso e retorna à capital fluminense para se tornar um dos precursores da poesia concreta e uma relevante referência para os preceitos neoconcretos. Nesse contexto, passa a compreender que seu interesse é menos pelo sentido ou pela forma final da poesia, mas sobretudo pelos modos de estruturar o poema – de sua materialidade ao caráter participativo do leitor –, o que o estimula a criar, junto a outros artistas, o movimento do poema/processo (1967-1972). Paralelamente aos dois movimentos que dominavam o eixo Rio-São Paulo nas décadas de 50 e 60, Dias-Pino, junto a Álvaro de Sá e outros artistas do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Minas Gerais e Mato Grosso, desenvolve esse método de vanguarda que repensa o poema para além de sua dimensão de signo linguístico, transformando o livro ou qualquer outro suporte em poemas, manipuláveis simbólica, estrutural e fisicamente pelo leitor.
A exposição toma como eixo central quatro poemas: O dia da cidade, Ave, Solida e Numéricos. No primeiro, o artista conecta os versos a linhas, descreve pontos de Cuiabá – centro geodésico da América do Sul – e forma um grande mapa, já trazendo para a arte questões relacionadas à cartografia. No segundo poema, páginas transparentes e palavras soltas apresentam diversas possibilidades de leituras, enquanto o terceiro, Solida, se apropria da ambiguidade entre as palavras solidão e sólida para convidar o leitor a dar corpo ao poema através da manipulação das páginas do livro. Já o último é uma brincadeira que associa palavras a números, gerando poesia a partir de formulações aritméticas, numa crítica à toda ideia de inspiração do artista.
Na exposição, visando ampliar a experiência sensorial dos trabalhos, tais livros-poemas foram transformados em grandes instalações magnéticas, nas quais os elementos serão construídos e rearranjados pelo visitante. Outro destaque da exposição é a Enciclopédia Visual Brasileira, na qual o artista vem trabalhando nos últimos 20 anos. Composto por 1001 volumes, o trabalho pretende apresentar, por meio de pranchas resultantes da montagem alegórica de referências culturais diversas, a história da construção da imagem no mundo.
A obra de Wlademir Dias-Pino, sua biografia, suas principais interlocuções, os marcos históricos de sua trajetória, suas referências e suas principais propostas estarão reunidas e articuladas, na exposição, na mais completa cronologia já elaborada sobre o artista. Fartamente ilustrada, e apresentando também os documentos relativos a cada ponto dessa linha do tempo, a cronologia oferece uma oportunidade ímpar de contextualizar a obra de Dias-Pino e perceber, em perspectiva, sua crucial relevância para o panorama nacional e internacional da arte, da poesia e da programação visual.
O poema infinito de Wlademir Dias-Pino abre ao público no dia 1º de março e, no mesmo dia, às 16h, o MAR recebe o artista para uma conversa dentro da exposição. A exposição integra um dos principais focos do programa curatorial do museu, apresentar artistas cuja obra encontra pouca circulação no Sudeste e revisar as narrativas da história da arte. Nesses três anos o MAR realizou, com essa intenção, exposições individuais de Berna Reale (PA), Yuri Firmeza (CE), Grupo EmpreZa (GO), Jonathas de Andrade (AL/PE), Rossini Perez (RN/RJ) e Fernando Lindote (RS/SC).