- FEVEREIRO 2021 – JANEIRO 2022
CURADORIA: MARCELO CAMPOS E CLAUDIA SALDANHA
A exposição “Paulo Werneck – Murais para o Rio” nos revela a produção do artista no Rio de Janeiro. Mais do que lançar luz sobre obras do pioneiro da atividade mural no país, a mostra busca reunir aspectos importantes de sua trajetória, como as atividades de ilustrador e artista gráfico.
Ao reunir estudos preparatórios para painéis, executados em mosaico, ilustrações, objetos e alguns documentos históricos, a mostra agrega projetos por afinidades estéticas, revelando um variado repertório de composições figurativas, abstratas e geométricas.
Um grupo de desenhos apresenta seus primeiros projetos: os painéis para o Instituto de Resseguros do Brasil e para o Ministério da Fazenda, ambos realizados no Rio de Janeiro, entre 1942 e 1943. Outro conjunto concentra a produção gráfica para livros e jornais. São desenhos a guache que nos remetem a uma iconografia brasileira muito valorizada no período, nos influxos modernistas em torno da construção de uma suposta “brasilidade” – a referência aos povos originários, afrodescendentes, à floresta e a outros elementos da cultura nacional.
Uma coleção de projetos abstratos sugere formas mais autônomas que conferem um tratamento igualitário aos desenhos. Linhas se cruzam e ângulos convergem criando novos planos e tensões na superfície. A predominância de azuis, brancos e tons terrosos se sobrepõe e afasta qualquer possibilidade de representação.
Outro conjunto nos mostra a atividade de Paulo Werneck como muralista de grandes empenas e fachadas. São os projetos modulares ou “padrão”, como o artista preferia designar. Composições geométricas se multiplicam adaptando-se a qualquer superfície plana em grande escala, tão habituais na arquitetura modernista. Utilizando quase sempre o círculo, o triângulo e o quadrado, o artista alternava o mosaico vitrificado das paredes internas com o cerâmico das fachadas.
O mosaico, material de comprovada resistência ao tempo, aplicado sobre o concreto armado, constituiu-se em um dos mais versáteis meios de revestimento. As pastilhas se adequavam aos ideais modernistas de humanizar espaços amplos e paredes-cegas. Por recomendação do arquiteto Marcelo Roberto, Paulo Werneck elegeu o mosaico como recurso estético, o que possibilitou uma produção pioneira e inovadora.
Em 1943, a convite de Oscar Niemeyer, amigo dos tempos de escola e companheiro de militância política, realizou os painéis laterais da Igreja São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte. Com cerca de 20 metros de extensão, os painéis da igrejinha da capital mineira são a primeira obra abstrata disponível ao grande público no Brasil.
A exposição que ora apresentamos no MAR é um testemunho do importante papel desempenhado por Paulo Werneck na construção de uma nova arquitetura e, em particular, na criação de edifícios públicos para o Rio. A nova arquitetura – despojada, funcional e econômica – favorecia a integração das artes.
Desenhos a guache, grafite e nanquim – projetos feitos à mão sobre a superfície de uma prancheta. Ideias diminutas, anotadas em poucos centímetros que mais tarde transformariam e cobririam extensas superfícies de concreto. Esse é o testemunho deixado pelo artista em seu ateliê, no bairro das Laranjeiras. E é na fatura e antevisão de Paulo Werneck que os painéis murais vão “se antecipar à pintura e à escultura na absorção de uma linguagem abstrata”, nas palavras do crítico de arte Paulo Sergio Duarte, revelando o artista como “um inovador na história da arte no Brasil”.