No século XVIII, o Rio de Janeiro torna-se capital do Vice-reino do Brasil e efetivamente se transforma na grande cidade que conhecemos: área de encontro entre cultura e comércio, polo de urbanidade e símbolo privilegiado de brasilidade frente ao mundo. Com a exposição Rio Setecentista, quando o Rio virou capital, o MAR comemora os 450 anos de fundação da cidade propondo um trajeto visual para adentrar esse século de sua história.
Do Rio setecentista, do Rio do ouro, do barroco e rococó, dos escravos do Valongo e do Paço dos Vice-reis restam sobrevivências. O que desse Rio foi destruído, o que é herança ingrata? Certamente foi no século XVIII que o Rio assegurou sua fama estética. A cidade maravilhosa une beleza natural a beleza urbana, ideia recorrente em propagandas, propostas políticas ou mesmo críticas. Também naquele momento, a população negra expandiu-se, ainda que sempre à margem, e os índios, tão importantes na luta pela posse e fundação da cidade junto aos portugueses, simplesmente desapareceram do registro do desenvolvimento carioca.
O encontro da cidade com o poder público é um dos aspectos mais fortes de sua história setecentista: capital por quase 200 anos, o Rio percebeu o envolvimento do poder com o dinheiro, com a religião, com a cultura e com a exclusão social. Deixamos de ter vice-reis ou eles apenas mudaram de nome? Mais de um século após a abolição, estamos livres das sombras da escravidão? Essas são perguntas que esta exposição não permite calar, questionando qualquer pretensão a uma ordem natural das coisas. O Rio de Janeiro é um lugar privilegiado por natureza, mas é também reflexo de sua complexa e contraditória história.
Carlos Antônio Gradim
Diretor-Presidente do Instituto Odeon
Museu de Arte do Rio – MAR