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“Se alguém me contasse que o Museu de Arte do Rio teria um jovem, negro e favelado, morador do Morro da Providência, como coordenador da Escola do Olhar, há sete anos, eu mesmo não acreditaria. E essa foi a reação de uma visitante ao me ver sendo apresentado à equipe da biblioteca, durante o processo de acolhimento institucional entre os setores do MAR, em março deste ano.
Essa realidade estrutura o Brasil e está tão bem consolidada que, ao anúncio de uma pequena mudança, o mais comum é se surpreender e questionar. Contudo, apesar da surpresa, fui bem recebido e hoje sei que o espanto, entre tantas possibilidades, era em direção positiva.
Portanto, quero fazer jus ao trabalho iniciado, dando continuidade ao que foi construído, a muitas mãos, na coordenação de Educação. Um espaço que busca acolhimento aos que não frequentam museus, para além da obrigatoriedade de políticas museológicas de relacionamento com território, sabendo como lidar com as muitas feridas geradas no processo de reurbanização da região portuária e, aos poucos, caminhar com os que se interessam, sobre a importância de fazer juntos um museu a partir das memórias, dos saberes e das experiências locais na busca por seguir firmando o papel social dos museus.
Chegando na “humildade” e fazendo a Escola do Olhar do jeito que somente a singularidade que um corpo preto, favelado e de trajetória distinta carrega. Esta é a terceira edição da publicação O Olhar dos Vizinhos no Jornal da Zona ou, como chamamos, o Jornal dos Vizinhos: o primeiro material impresso com meu nome como coordenador. Uma responsabilidade que conflui múltiplos interesses e que acredito que o poder da inventividade favelada que me auxiliará nesta complexa realização.
É isso! Tempo de muitas mudanças, até mesmo de como pensar sobre nós mesmos. Nesta edição, trouxemos matérias discutidas e pensadas nos últimos quatro encontros com os vizinhos, apesar dos desafios do contexto da pandemia e das mais de 150 mil saudades que ela deixou. Ainda assim, resistimos e avançamos com o árduo desafio do uso da tecnologia em dois tele-encontros que, ao final, resultaram em editoriais que abarcam ações, projetos, personagens e memórias da região, que, agora, não são apenas escritos pelos vizinhos, mas também coordenados pelo vizinho que vos escreve. Desejo uma boa leitura a todes!”
Hugo Oliveira
Coordenador de Educação do MAR